1. A ideia de escrever esta história surgiu aos
poucos por um motivo real: explicar a alguém que a vida pode ser maravilhosa,
mesmo quando a morte parece ser a única saída. Escrevi para um suicida que
enquanto lia me disse várias vezes: “o tempo em que estou a ler BH é o tempo em
que não me corto”. Para ele, escrevi esta história.
2. BH não é a primeira história que
escrevi, mas abandonei uma outra para me dedicar de corpo e alma. Escrevi
quatro volumes num ano.
3. Quinze é um número perfeito. A
simbologia remete para a área da psicologia comportamental, uma das técnicas de
autocontrole nos casos de automutilação é contar até quinze. Fiz deste número,
o número da história. Por essa razão, são quinze capítulos, quinze rosas,
quinze carros, quinze mulheres… E será publicado quinze meses
depois da decisão de publicar.
4. O primeiro nome que escolhi foi o
do Matt. Sou pouco criativa em relação a nomes, porém sou viciada em séries
criminais. Matthew é o nome real da personagem que eu mais gosto de Mentes
Criminosas. Decidi que o nome da protagonista também teria que ter duas
consoantes repetidas: Anna. Talvez a leitura de Anna Karenina e de Nothing Hill
também me tenham influenciado. A origem dos nomes começou por associação. Nunca
ponderei em momento algum mudar. Anna Hardy – porque Thomas Hardy é um dos meus
escritores preferidos – e Matthew Cooper – porque o Bradley Cooper é dos meus atores prediletos.
5. A
escolha do título não foi fácil. Precisaria de reviver os primeiros cinco meses
em que escrevi esta história para explicar o quão sufocante foi encontrar um
título que se adequasse. Quando o escolhi, tive a certeza de que era o tal.
6. Reescrevi
quatro vezes o primeiro volume. Para memória futura, guardei todas as versões.
A única coisa que se manteve igual entre a primeira versão e a final são os
nomes. Quando eu escolho os nomes das minhas personagens é para sempre.
7. Na
verdade, a minha primeira tentativa de escrita foi na visão do Matt.
Abandonei-a para escrever a da Anna e escrevi toda a história na versão dela.
Estou neste momento a escrever a versão do Matt: uma visão completamente
diferente, muito mais cruel, dolorosa e fria. Não sei se todas as pessoas que
lerem a versão da Anna serão corajosas para ler a versão do Matt – eu própria, no
interregno de quase um ano, fui adiando esta verdade. A pedido de alguns amigos
próximos, tomei a decisão de escrever pelo menos o primeiro volume.
8. Suicídio.
Uma palavra que assusta até os mais fortes. Ouvi muitas vezes que não ia
conseguir misturar romance com este tema. Fui com medo. Este é um dos maiores
problemas de saúde mental. A OMS receia que em 2020 se atinja um milhão e meio de mortes
por suicídio. É a segunda causa de morte entre jovens. É preciso fazer alguma
coisa: prevenir, recuperar, tratar. Tenho esperança – talvez fé, também – que esta
história chegue a todos os corações pretos que querem acabar com a sua própria
vida.
9. Anna
Hardy foi a personagem mais fácil que já desenhei até hoje. Ela é quase
perfeita e simboliza todas as pessoas que continuam lado a lado com os suicidas,
que não desistem, que não deixam de amar ainda e apesar de tudo.
10. Matthew
Cooper é a personagem mais difícil que já construí. Ele é mentalmente muito
complexo, arrojado e demasiado inteligente para que algum dia consiga defini-lo
na totalidade. Ele é tão frio como quente. Tudo o que ele faz, tudo o que ele
imagina… é por amor: primeiro à família, depois à Anna. Lá no fundo, ele é um
coração preto muito altruísta.
11. A
ideia inicial era só escrever um volume, mas a paixão pela história de amor de
Anna e Matt mostrou-me que não valia a pena contrariar a certeza de que o amor
não é um antídoto, mas um remédio. O que significa que um suicida não se “cura”
por se apaixonar. É preciso continuar a batalhar, muitas vezes durante anos. É
por isso que a história é longa. Acreditar que um suicida se cura por encontrar
o amor é mais uma das ideias erradas em torno deste tema.
12. As
rosas brancas são um símbolo do amor entre estas personagens – a capa de BH
abre o véu para um desfecho calculável. Não haverá um único lugar onde ele a
leve onde não haja rosas. Ela é a própria rosa desta história 🖤
13. Quando
eu comecei, eu dizia que dedicaria o meu ainda-não-livro
a todas as pessoas que me tinham dito até
já e nunca mais voltaram. Afinal, Black Heart é mais especial do que isso.
Black Heart é uma homenagem à força dos amores sem tempo, às relações difíceis
e é de todos aqueles que se arriscarem a sonhar com eles. Está dedicado à minha avó, porque sei que onde
ela está certamente assiste ao quão longe pude ir na escrita.
14. Escrevi
sempre a ouvir música e se pudesse escolher uma – e apenas uma – melodia para
acompanhar a leitura, de certeza que escolheria “Photograph” (versão dos Boyce
Avenue com a Bia Miller).
15. Tenho
um momento preferido deste primeiro volume que vem acompanhado com a frase “o teu corpo é o único lugar do mundo onde
não penso em morrer”.