quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

UM ROMANCE SOBRE SUICÍDIO: BLACK HEART

Enquanto escrevia, para um verdadeiro suicida, ouvi várias vezes "o tempo em que estou a ler BLACK HEART é o tempo em que não me corto", isso fez-me continuar, persistir, insistir. 
Costumo dizer em tom de brincadeira que "BLACK HEART" começou com um fragmento mental desajustado. As personagens apareceram-se-me na imaginação e eu não soube o que fazer com elas, mas sabia que precisava de escrever sobre suicídio e amor, tudo na mesma história. A primeira vez que falei a sério sobre "isto" já tinha o primeiro volume escrito. Não sou tímida, mas sempre fui insegura, sobretudo sobre os meus pensamentos. Julguei, durante muitos anos, que sofria de alguma doença mental, porque imaginava histórias sobre tudo e sobre nada, por qualquer coisa, sem motivos. Passava o tempo "com a cabeça na lua". 
Amor. Eis a palavra mais importante. Tinha que ser em forma romanceada, livros técnicos não convencem ninguém de que o suicídio não é a única solução, porque a única solução possível é reaprender a viver. A dor, essa, ninguém pode calá-la do dia para a noite. Pode-se, sim, gradualmente, transportá-la para segundo plano. Ninguém acredita que um suicida se cura pela descoberta do amor. Esta foi a minha premissa. Sou apaixonada e racional na mesmíssima intensidade. Portanto, sempre soube que se queria abordar um dos temas mais controversos do século XXI, numa Era em que 800 mil pessoas morrem por ano no mundo vítimas de si próprias, teria que o fazer da melhor forma possível - e a ilusão não poderia ser o melhor. Portanto, esta história tem cliché, tem intimidade e verdade. É o retrato puro e cruel de um suicida. Um Matthew que representa tantas outras pessoas que querem morrer, mas têm consciência de que há alguém que os ama. É engraçado como fui descobrindo quem era o verdadeiro black heart enquanto escrevia... a minha visão, sobre ele, mudou. Não posso dizer que o Matt seja um coitado, um deprimido ou um falhado. Mentiria e iria contra aquilo em que acredito. Aprendi a respeitá-lo e a entender cada uma das suas atitudes. A maneira como ele ama, protege e deseja a Anna é de uma intensidade que pode acabar com o seu mundo (e com o dela), pois o sentimento que vai crescendo supera o próprio desejo de morrer - talvez isto possa justificar o quão medicinal é o amor. E ela, por outro lado, não é a inocente que se deixa enfeitiçar pelo homem que ele aparenta ser - prepotente, exagerado e agressivo - mas, antes, pelo verdadeiro homem que ele é por baixo daquele temperamento todo. Principalmente, nunca, mesmo que lhe dessem todo o dinheiro do mundo, ela jamais quereria fazer parte daquele plano, do plano mórbido que ele criou para compensar a sua família: arranjar uma mulher com quem ter um filho para depois se suicidar numa espécie de "alívio" comparado à paz. 

Para um suicida, a paz parece nunca chegar, a não ser que venha mascarada de amor. Essa é a minha verdadeira crença. 

Um era o dia, o outro era a noite.
Ele estava no escuro e ela parecia um farol.
Uma odisseia de esperas
Reinava em almas separadas
Mas,
Um coração preto também bate
Quando há outro que palpita em uníssono.



3 comentários:

Diga-me o que pensa, aquilo que quiser.

Doce memória, eterno amor