domingo, 9 de dezembro de 2018

AMOR PRETO


- Tu és tudo para mim, Anna Hardy. 
Agarrou-me na mão, tirando-me a esponja. Passou-a no meu ombro e fez-me rir. 
Ele faz-me mesmo rir. De verdade. 
- A minha alma escura precisa que a ilumines, embora seja muito provável que eu nem alma tenha. Hoje quando eu te procurei pela cidade e não te encontrei, ia suicidar-me. – Confessou devagar e produziu as palavras com carícia, mas nem assim eu deixei de me sentir profundamente magoada. – Depois lembrei-me de ti, tu precisas que eu te proteja.
Meu Deus, ele ainda pensa em morrer... 
Ele acabou de me dizer que só não se suicidou por minha causa. 
Num gesto de desespero, puxei a sua mão enrugada e coloquei-a aberta sobre o meu peito. 
As lágrimas misturavam-se com a água do banho e eu queria puder dissecar o meu próprio peito, para lhe mostrar que dentro de mim morava um coração que palpitava por ele, só por ele.
- Sentes, Matt? Sentes? 
Tentei gritar, mas as lágrimas corriam-me em cascada. 
Ele continuava em silêncio.
- Eu perguntei se tu sentias, Matt, eu quero que tu sintas, que tu me sintas! – Insisti num murmuro sofrido e quase sem voz. – Porque o que eu sinto é que tu moras dentro de mim e eu nunca, nunca te deixarei sair daqui. Na minha alma, mora um coração preto. Tenho estas saudades doentias, que eu nem sei explicar, é quase como se fosse morrer a qualquer instante quando não te vejo, quando não te sinto. 
Céus!
Levei as mãos à cabeça, eu precisava de lhe explicar, mas eu mal conseguia falar.
Pousei as mãos no seu peito, respirei fundo e fitei-o. 
- Vais levar-me ao altar, vais dizer-me que sim olhos nos olhos e eu hei de cuidar de ti todos os dias da minha vida, porque te amo e estou disposta a lutar contigo contra os teus quinze fantasmas. 

Descai a cabeça no seu peito, no espaço entre a sua cabeça e o seu ombro, e murmurei insistentemente que o amava, repeti-o até ficar rouca, pois a ideia de o perder era a pior do mundo.

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Doce memória, eterno amor